Mesmo em pleno século XXI, as mulheres continuam enfrentando barreiras significativas no mercado de trabalho, que vão desde microagressões até situações claras de assédio e violência institucionalizada.
Segundo o relatório Women @ Work 2024, 43% das mulheres brasileiras disseram ter sofrido microagressões no ambiente de trabalho apenas no último ano. O impacto dessas agressões silenciosas vai muito além do desconforto imediato: elas corroem a autoconfiança, comprometem o desempenho e reduzem as chances de ascensão profissional.
Em alusão ao Agosto Lilás, mês de conscientização e enfrentamento à violência contra a mulher, este artigo analisa os principais tipos de violência enfrentadas por mulheres no ambiente profissional brasileiro. A campanha, de caráter nacional, dá visibilidade às diversas formas de violência que atingem as mulheres, inclusive no contexto profissional, promovendo conscientização e engajamento institucional. Os dados são alarmantes e reforçam a urgência de mudanças estruturais.
Microagressões são formas sutis de violência que se manifestam por meio de comentários, gestos ou atitudes que expressam preconceito, desvalorização ou hostilidade com base em marcadores sociais como gênero, raça, idade ou orientação sexual.
No ambiente corporativo, essas atitudes acabam muitas vezes passando despercebidas, como por exemplo, quando uma mulher tem sua fala constantemente interrompida em reuniões, é elogiada mais por sua aparência do que por suas competências, ou ouve frases como “você é muito sensível” ao apontar um comportamento inadequado, está sendo invalidada de forma sutil, porém recorrente.
Esse tipo de agressão não se dá por meio de xingamentos ou ataques diretos e, justamente por isso, torna-se tão difícil de nomear e combater. As microagressões criam um ambiente hostil disfarçado de normalidade, minando o senso de pertencimento e dificultando o avanço das mulheres nas organizações.
É importante destacar que nem toda microagressão é intencional. Muitas vezes, essas atitudes são reproduzidas de forma automática, como reflexo de padrões culturais profundamente enraizados. No entanto, o fato de serem involuntárias não reduz seu impacto, pelo contrário, evidencia o quanto essas práticas estão normalizadas e como é urgente conscientizar, educar e transformar comportamentos.
Embora a classificação de microagressões tenha origem nos estudos raciais, a tipologia desenvolvida por Derald Wing Sue é amplamente utilizada para analisar as violências sutis enfrentadas por mulheres, especialmente quando interseccionadas por marcadores como gênero e classe.
Além dessa tipologia, há comportamentos amplamente reconhecidos que reforçam a desigualdade de gênero no trabalho:
O assédio no trabalho vai além do sexual. Trata-se de qualquer conduta abusiva — verbal, não verbal, psicológica ou física — que gere constrangimento, humilhação, intimidação ou exclusão. Quando tem como base o gênero, é uma forma de violência contra a mulher e impacta sua dignidade e segurança.
Segundo o Mapa do Assédio no Brasil, 69% das mulheres afirmaram já terem sido assediadas ao longo da carreira. No entanto, 76% nunca denunciaram. Os principais motivos incluem medo de retaliação (47%) e descrença na efetividade dos canais de denúncia (32%).
Esse silenciamento expõe problemas estruturais: ausência de protocolos claros, cultura permissiva e omissão da liderança. O resultado é um ambiente hostil, que afasta mulheres de oportunidades e aprofunda desigualdades.
De acordo com o Ministério Público do Trabalho, o assédio sexual pode ocorrer mesmo com consentimento motivado pelo medo — e continua sendo crime, conforme o Art. 216-A do Código Penal, com pena de 1 a 2 anos de detenção.
Apesar dos obstáculos, as denúncias estão crescendo: houve um aumento de 16,8% entre 2023 e 2024, com 1.497 casos registrados apenas no primeiro trimestre deste ano, segundo o MPT.
O relatório da Deloitte aponta que 56% das mulheres brasileiras relataram altos níveis de estresse, e 50% disseram estar emocionalmente esgotadas. O cenário se agrava quando analisado sob a ótica da desigualdade estrutural.
O Protocolo para Julgamento com Perspectiva de Gênero destaca que essas experiências são atravessadas por marcadores como raça, classe, maternidade e orientação sexual. Ou seja, a sobrecarga não é homogênea, mas amplificada por interseccionalidades.
Entender essa realidade é essencial para construir políticas públicas e práticas organizacionais mais justas. Empresas que ignoram essas dinâmicas reforçam exclusão, invisibilidade e adoecimento.
Construir um ambiente de trabalho seguro e saudável para mulheres exige mais do que boas intenções. É preciso adotar ações concretas, lideranças engajadas e compromisso institucional.
A baixa representatividade nas lideranças reflete um sistema que historicamente exclui mulheres — sobretudo negras, indígenas, mães e LGBTQIAPN+. Apenas 27% das mulheres brasileiras se sentem plenamente incluídas no trabalho, segundo a Deloitte.
A responsabilidade, no entanto, não é apenas da liderança. Toda a organização precisa atuar com políticas claras e protocolos eficazes.
Promover ambientes inclusivos fortalece a cultura organizacional, impulsiona a inovação e melhora os resultados.
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Os desafios das mulheres no mercado de trabalho persistem e, muitas vezes, são negligenciados. O caminho para a equidade é urgente e exige ação.
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